Um assunto contemporâneo que preocupa todos que se encontram inseridos no tecido econômico de uma sociedade, refere-se à perenidade das empresas e das instituições, motores que impulsionam e geram os ciclos de riqueza e de crescimento, essenciais ao sustento das pessoas e das famílias.
No Brasil, como é cediço, o empresariado, gerador de empregos, carrega cargas extras em sua jornada cotidiana, seja em razão da complexa e pesada carga tributária, seja em razão das excessivas exigências burocráticas, seja em razão da escassez de recursos financeiros, haja vista os contornos de nosso sistema bancário, concentrado e viciado no empréstimo sem risco ao Estado ou nos juros exorbitantes cobrados do particular, seja pela dificuldade de acesso ao mercado de capitais, seja ainda, por conta de nosso tímido mercado de consumo, se comparado a países de mesmo porte e população.
“Apenas para fazer constar, aqui em nosso país, ganhamos muito menos que nossos irmãos do norte pelos mesmos tipos de trabalhos ou de profissões e pagamos muito mais pelos mesmos tipos de produtos e serviços oferecidos. Isso vale para todos os elos da cadeia, sejam pessoas naturais ou jurídicas. Consequência evidente de quem ganha menos e paga mais, é a pobreza, sendo a riqueza, esta última compreendida neste contexto apenas como uma condição digna de sobrevivência, uma verdadeira exceção”, reflete Dr. Marcelo Sartori, sócio da Sartori Advogados.
Adiciona-se a esta conjuntura, variáveis como: (i) custo e ineficiência do poder público de forma geral; (ii) baixo nível do ensino em geral; (iii) corrupção endêmica.
A breve contextualização acima somada ao segundo ano de restrições, e, para fins deste artigo, refletem 3 pilares para o enfrentamento da crise: pessoas, tecnologia e “timing | processo de decisão”.
Convergindo este pilar para dois pontos importantes: qualificação e engajamento.
“Não é jargão quando falamos que custa muito mais caro ter um colaborador não qualificado do que investir em sua capacitação. A busca, a qualificação e a retenção de profissionais, são os maiores ativos de qualquer empresa. E principalmente num cenário como o atual, onde transformações e inovações são imprescindíveis para a perenidade e surgimento de novos produtos e serviços ou respostas rápidas perante a evolução do mercado. Novos negócios surgirão assim como negócios atuais deixarão de existir. Faz parte do conceito evolução”, afirma Frank Koji Migiyama, sócio da FKConsulting.Pro, consultoria especializada em Turnaround, Gestão Interina, M&A, Inovação e Recuperação Judicial.
Tão importante quanto a qualidade técnica e pessoal do colaborador, é o engajamento das equipes de trabalho.
“Ter as equipes engajadas representa, dentre outras necessidades, uma possibilidade nova, percebida mais facilmente após a reforma trabalhista de 2017. Refiro-me as negociações coletivas de trabalho. Até hoje, nossa tradição é da postura reativa, passiva e receptiva por parte da empresa. Recebe-se e negocia-se as propostas dos empregados. Pergunto, por que a empresa também não apresenta sua pauta de negociação aos empregados? Uma equipe bem formada, bem-informada e bem engajada, estará apta a esta nova proposta, tornando-se um importante senão determinante coautor do êxito e do sucesso da empresa”, comenta Sartori.
“Quanto a tecnologia, para não dizer inovação, provoco que temos atualmente acesso às plataformas e ferramentas que nem imaginávamos ter há duas décadas. Vimos serviços e produtos definhados ao longo dos anos, e novos nascendo na mente de cada um de nós. Arrisco a dizer que muito isso se deve ao crescente entendimento do conceito de empreendedorismo, seja através de treinamentos e acesso fácil às informações, e principalmente, ao ciclo econômico de altos e baixos onde as dificuldades fomentam todos nós a sair da zona de conforto que potencializa ideias e soluções criativas. É um ciclo virtuoso da evolução do mercado e da sociedade”, explana Migiyama.
Assim, estar atento aos sinais para que se proceda a mais rápida correção de curso, é essencial para o sucesso e a perpetuação do negócio, bem como, pela adoção de medidas mais adequadas e brandas. “Em momento de crise, às vezes nos deparamos com a síndrome do avestruz (onde não tomamos decisões e esperamos que os problemas sumam) e com a síndrome do estudante (onde deixamos para última hora). Perder o timing nas tomadas de decisão pode ter um efeito catastrófico na situação da empresa que pode perder poder de manobra, restando se definhar lentamente causando mais danos do que benefício para a economia. Introduzo o conceito de empresa zumbi”, reforça Frank Koji Migiyama, especialista em Turnaround e Reestruturação de empresas.
“Um exemplo de sucesso de correção de curso, de ‘time’ ajustado, é o da IBM. De gigante fabricante de mainframe, a IBM transformou completamente seu modelo de negócio, passando a ser um gigante na prestação de serviços, atividade que possui um valor agregado superior, passando a dedicar-se a consultoria, informação sob demanda e serviços”, compartilha Marcelo Sartori, advogado especialista em direito empresarial.
Estar atento aos sinais do negócio e do tempo, ter as equipes qualificadas e engajadas e empregar adequadamente as tecnologias disponíveis, são mantras essenciais a perpetuação de um negócio profícuo, sólido e longevo.
Em que pese estes conceitos, o sistema jurídico brasileiro, ainda que não perfeitamente, oferece alternativas de correção e de mitigação de curso. Referimo-nos as alternativas de recuperação extra ou judicial.
Desta sorte, clareza, coragem e determinação, farão toda diferença nos rumos e no desfecho na vida da empresa, de seus cotistas, dos empregados e de suas famílias, dos credores e de toda sociedade. Vamos em frente!