Mais do que entender o conceito de “inovação”, é preciso compreender o processo e os caminhos que levam até ela. Tendo essa afirmação como base, é necessário ressignificar segmentos estratégicos por campo de protagonismo da inovação, no caso, os setores público e privado.
No setor público, o primeiro ponto que precisa ser comentado diz respeito, sem dúvida, ao investimento em educação. Ela é claramente o maior gap de nosso rico país em reservas naturais e diversidade humana. Temos uma das piores posições do mundo no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) – segundo relatório divulgado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), da ONU (Organização das Nações Unidas) no fim de 2020, passamos da 79ª para a 84ª posição entre 189 países. E, durante a atual pandemia de Covid-19, somos o país do G20 com o menor número de dias com aulas presenciais.
Enquanto discutimos as cores das bandeiras para saber se teremos bares e restaurantes abertos, há um silêncio sobre a condução da educação em todos os níveis e dimensões. Tivemos, claramente, um ano perdido, e estamos partindo para o segundo. Como inovar se não construirmos e não exercitamos a intelectualidade do povo brasileiro?
A questão da intelectualidade se liga ao segundo ponto relativo à inovação no segmento público: o investimento em P&D (Pesquisa & Desenvolvimento). A formação de cientistas passa por estudar no exterior, já que não temos uma única instituição no ranking das 100 melhores universidades do mundo. Como inovar se não temos investimentos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias a serviço da economia, saúde e cidadania?
Temos ainda a questão da regulação. O Marco Legal das Startups (Projeto de Lei Complementar 146/19), aprovado pelo Senado Federal em fevereiro e que agora aguarda nova apreciação por parte da Câmara dos Deputados, trata-se de um avanço grandioso nesse sentido. Houve grandes desafios para compor o texto final do projeto, mas, ao mesmo tempo, a repercussão na mídia ficou aquém do esperado. No Brasil, ações concretas que deveriam promover o empreendedorismo via startups e scale-ups estão na marginalidade das iniciativas de financiamento público e leis.
Na contramão do cenário, não há fomento maior, mesmo que fracionado, dentro de todos os segmentos e subsegmentos da economia do que o ecossistema das startups no país. Como inovar se estamos ainda às margens da ignorância dos órgãos públicos de fomento da economia?
Diante das deficiências de política pública favorável ao empreendedorismo e o enorme gap da educação do país, o segmento privado poderá aumentar seu protagonismo, sobretudo no que diz respeito à educação. Fomentá-la em direção ao empreendedorismo e valorizar a qualificação e a meritocracia das equipes e talentos individuais é um caminho para gerar inquietação, questionamentos, discussões e ações disruptivas – ingredientes essenciais da inovação.
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