A forte desvalorização da moeda brasileira é sempre preocupante segundo analistas econômicos. A alta do câmbio é um sinal de alerta para gestão de empresas que operam em transações de importação e exportação devido às flutuações que impactam diretamente no caixa, seja de forma positiva ou negativa. “Ter uma reação rápida quanto à revisão do planejamento estratégico – principalmente na área de supply chain e de forma integrada às vendas e ajustes no caixa alocando ativos, por exemplo em reais e dólares, minimiza e previne a exposição da empresa frente essas flutuações. Da mesma forma que é importante avaliar, instrumentos financeiros e jurídicos que visam proteger transações comerciais da volatilidade do mercado,” alerta Frank Koji Migiyama, sócio da FKConsulting.Pro, consultoria especializada em Melhoria de Desempenho, Gestão Interina, M&A, Reestruturação tributária e Recuperação Judicial.
Para Frank, com a moeda americana valorizada, as movimentações de fusões e aquisições tendem a aumentar. No ano passado, 1.231 transações foram concretizadas, de acordo com levantamento realizado pela KPMG. O número representa crescimento de 27,3% em comparação com 2018, quando foram realizadas 967. “As fusões e aquisições geram a consolidação de mercados que mitigam investimentos. Um dado importante do levantamento da KPMG é o crescimento de 19% das aquisições pelas empresas estrangeiras, totalizando 374”, explica o consultor.
No que tange as oscilações do dólar e as consequências para os negócios, especialistas da FK Consulting fazem alerta. “A indústria brasileira já sofreu fortemente com a crise cambial de 2008. A exemplo da Sadia que não viu outra alternativa senão a fusão com a concorrente Perdigão, em 2009. A empresa, na época, contabilizou 2 bilhões de reais em perdas em função das operações cambiais”, comenta Frank. A varejista Ajinomoto também foi atingida fortemente com a flutuação do câmbio e registrou perdas de 180 milhões de reais, em 2008. No caso, a problemática financeira foi agravada pelas dívidas atreladas à moeda estrangeira. “Empresas que têm empréstimo atrelando juros com a oscilação do dólar, se não tenha uma proteção, perdem sem dúvida. Lembro do caso da Tok & Stok que no contrato especificava que se a moeda americana caísse, os juros seriam menores, já com cenário com alta do dólar a dívida aumentava. São detalhes e cuidados constantes que preservam uma operação”, relembra Koji.
Já a indústria nacional que não depende essencialmente da importação de matérias-primas tem condições de buscar mais competitividade frente à concorrência. É o caso da varejista Renner que teve lucro de R$ 1,099 bilhão, alta de 7,7% em relação a 2018. As que importam têm redução de ganhos e dependendo das operações sofrem para segurar a variação a longo prazo sem repassar ao cliente, na avaliação dos consultores da FK Consulting.
Na outra ponta, quem trabalha fortemente com exportação tende a se beneficiar. É o caso da exportação de calçados e commodities como soja, milho. “A alta do dólar aumenta também os preços dos insumos importados, logo aumenta o custo. Mas se a gestão está equilibrada, o Agro por exemplo, tende a aumentar a receita das exportações. Sobretudo vale lembrar que é um setor desprotegido no sentido de estar sujeito às intempéries do clima que impacta no resultado final. Por exemplo, a região Sul do país sofre atualmente com a estiagem e vai amargar prejuízo alto com uma colheita baixa”, avalia Frank.
Não se pode ignorar, de outro lado, o risco de um aumento de pedidos de recuperação judicial e falências, como comenta Fernando Lobo, sócio da Motta Fernandes Advogados, especialista na área. “A forte e inesperada oscilação da moeda, atrelada à suspensão de atividades em países como a China, importante parceiro do Brasil, e aos movimentos da bolsa de valores, têm impactos severos na economia, não se podendo desprezar a necessidade repentina de se recorrer ao Poder Judiciário”, salienta Fernando. “Esta não é a primeira turbulência e nem a última que enfrentaremos, mas adiciona-se a esse cenário o desabastecimentos de insumos, dificuldade na entrega de serviços e de produtos finais, o efeito covid-19, “bail out” do governo e de outras instituições. Vivemos um alerta forte que indicará novas recuperações judiciais e extrajudiciais, além de falências. Vivenciamos hoje um efeito borboleta e cascata que pode perdurar alguns anos até recuperarmos uma ascendência desejada do PIB. Todos os setores de certa forma, já estão sendo impactados e a necessidade de se reestruturar e inovar, com recursos limitados, é a ordem do dia” finaliza Frank Koji Migiyama, sócio da FKConsulting.Pro, especialista em reestruturação e melhoria de resultados.
Matéria publicada no Terra e nos principais sites de notícias e de renome